segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Poesia Estrangeira - Parte III



[modo esquizofrênico on] Saudações fieis leitores! Sejam bem-vindos a mais um dia na coluna mais comentada da história desse blog. Hoje, vamos fazer uma pequena mudança de ares, como me foi lembrado, essa coluna estava sendo dominada por americanos, então, de hoje em diante vamos mudar o foco para o velho mundo, no caso de hoje mais precisamente para Alemanha, pátria de Heinrich Heine, sem mais delongas vamos logo ao assunto:[modo esquizofrênico off]




HEINRICH HEINE



Christian Johann Heinrich Heine, nascido em 13 de Dezembro de 1797 e falecido no dia 17 de fevereiro de 1856). Conhecido como o "último dos românticos", sua obra foi fonte de inspiração para compositores como Felix Mendelssohn, Franz Schubert e Robert Schumann. Heinrich Heine viveu num período cujas mudanças sociais e políticas tiveram consequências em quase todo o mundo: a Revolução Francesa e as guerras napoleônicas.
Como poeta, Heine estreou em 1821. E, já no começo de sua longa carreira literária, compôs um de seus poemas mais famosos, Dois granadeiros, que reflete sua admiração por Napoleão.

Por razões de saúde passou temporadas nas praias do Mar do Norte, que lhe inspirou uma série de poemas sombrios e pitorescos sobre o amor frustrado, incluídos em seu famoso Livro das canções, uma extensa coleção de versos.


Esses primeiros trabalhos mostram influências da época, porém o toque irônico os destaca do mainstream romântico. Suas viagens de verão produziram também a base para os quatro volumes dos Quadros de viagem (1826–31), uma combinação de autobiografia, crítica social e debate literário.


Em visita à Inglaterra em 1827, ficou horrorizado com os costumes e o materialismo que dominavam a capital inglesa, voltando decepcionado para a Alemanha. No terceiro volume dos Quadros de viagem, Heine satiriza o poeta e dramaturgo alemão August von Platen, que tinha atacado as origens judaicas do poeta. Este ato prejudicou a reputação de Heine. Em 1831 foi a Paris como jornalista para escrever artigos sobre o desenvolvimento do capitalismo e da democracia no país. Três anos mais tarde, se apaixonou por Crescence Eugénie Mirat ("'Mathilde" em seus poemas), com quem casou anos mais tarde.

Na capital francesa, escreveu livros de viagens e ensaios sobre a literatura e filosofia de sua terra natal, o que não agradou aos censores alemães. A partir daí o poeta passou a ser visado por seu potencial subversivo. Uma frase sua se tornaria profética no contexto do nazismo: "Onde livros são queimados, seres humanos estão destinados a serem queimados também". No fim de 1835, ele se encontrava cercado de espiões, sendo forçado a se exilar em Paris. Sobre o assunto, escreveu: "Quando os heróis saem do palco, os palhaços sobem".


Desafiando os censores, Heine escreveu, durante estada na Alemanha, uma longa sátira – Alemanha, um conto de inverno (1844), onde ataca os reacionários. Do mesmo ano data o poema Os pobres tecelões, onde retrata as péssimas condições de trabalho no país, traduzido por Friedrich Engels para o inglês. Graças a ele, Heine se tornou um dos poetas mais estudados em países comunistas.

O Brasil também se encontra presente na obra de Heine. No poema O Navio Negreiro, do original alemão Das Sklavenschiff, de 1853/54, o escritor alemão retrata a condição dos prisioneiros de um navio negreiro aportado no Rio de Janeiro. O poema foi base de inspiração para o escritor Castro Alves, em seu poema de mesmo nome. No Brasil, Heine foi admirado por diversos escritores brasileiros, entre eles Machado de Assis Além de Machado, muitos outros também traduziram o escritor alemão, como Gonçalves Dias e também Raul Pompéia, Alphonsus de Guimaraens, Fagundes Varela e Manuel Bandeira.

Já estou ciente de que ouvirei reclamacões e queixas sobre o tamanho do poema mas de qualquer jeito aqui vai o dito cujo:


O navio negreiro
O sobrecarga Mynheer van Koek
Calcula no seu camarote
As rendas prováveis da carga,
Lucro e perda em cada lote.

"Borracha, pimenta, marfim
E ouro em pó... Resumindo, eu digo:
Mercadoria não me falta,
Mas negro é o melhor artigo.

Seiscentas peças barganhei
-- Que pechincha! -- no Senegal;
A carne é rija, os músculos de aço,
Boa liga do melhor metal.

Em troca dei só aguardente,
Contas, latão -- um peso morto!
Eu ganho oitocentos por cento
Se a metade chegar ao porto.

Se chegarem trezentos negros
Ao porto do Rio Janeiro,
Pagará cem ducados por peça
A casa Gonzales Perreiro."

De súbito, Mynheer van Koek
Voltou-se, ao ouvir um rumor;
É o cirurgião de bordo que entra,
É van der Smissen, o doutor.

Que focinheira verrugenta!
Que magreza desengonçada!
"E então, seo doutor, diz van Koek,
Como vai a minha negrada?'

Depois dos rapapés, o médico,
Sem mais prolilóquios, relatando"
"A contar desta noite, observa,
Os óbitos vêm aumentando.

Em média eram só dois por dia,
Mas hoje faleceram sete:
Quatro machos, três fêmeas, perda
Que arrolei no meu balancete.

Examinei logo os cadáveres,
Pois o negro desatinado
Se finge de morto, esperando,
Lançado ao mar, fugir a nado!

Seguindo à risca as instruções,
Ao primeiro clarear da aurora,
Mandei retirar os grilhões
E -- carga ao mar! -- sem mais demora.

Os tubarões, meus pensionistas,
Acudiram todos, em bando.
Carne de negro é manjar fino
Que aparece de vez em quando.

Mal nos afastamos da costa,
Rastreiam o barco, na esteira,
Farejando de muito longe
Os eflúvios da pestiqueira.

Edificante é o espetáculo,
Pois o tubarão narigudo
Não escolhe cabeça ou perna
E abocanha, devora tudo!

Como se opíparo banquete
Fosse um simples aperitivo,
Põe-se a rondar, pedindo mais,
Sempre à espreita e de olho vivo!"

Mas o inquieto van Koek lhe corta
O relato em meio... Como há de
Remediar-se a perda, pergunta,
Combatendo a letalidade?

Responde o doutor: "Natural
É a causa; os negros encerrados,
A catinga, a inhaca, o bodum
Deixam os ares empestados.

Muitos, além disso, definham
De banzo ou de melancolia;
São males que talvez se curem
Com dança, música e folia."

"O conselho é de mestre!", exclama
Van Koek. O preclaro doutor
É perspicaz como Aristóteles,
Que de Alexandre era mentor!

Eu, presidente dos Amigos
Da Tulipa em Delft, declaro
Que, embora sabido, ao seu lado,
Não passo de aprendiz, meu caro.

Música! Música! A negrada
Suba logo para o convés!
Por gosto ou ao som da chibata
Batucará no bate-pés!"

O céu estrelado é mais nítido
Lá na translucidez da altura.
Há um espreitar de olhos curiosos
Em cada estrela que fulgura.

Eles vieram ver de mais perto
No mar alto, de quando em quando,
O fosforear das ardentias,
Quebra a onda, em marulho brando.

Atrita a rabeca o piloto,
Sopra na flauta o cozinheiro,
Zabumba o grumete no bombo
E o cirugião é o corneteiro.

A negrada, machos e fêmeas,
Aos pulos, aos gritos, aos trancos,
Gira e regira: a cada passo,
Os grilhões ritmam os arrancos

E saltam, volteiam com fúria incontida,
Mais de uma linda cativa
Lúbrica, enlaça o par desnudo --
Há gemidos, na roda vida.

O beleguim é o maitres des plaisirs,
É ele quem manda e desmanda;
Instiga o remisso a vergalho
E rege a grito a sarabanda.

E taratatá e denrendendém!
O saracoteio insano
Desperta os monstros que dormem nas ondas
Ao profundo embalo do oceano.

Tubarões, ainda tontos de sono,
Vêm vindo, de todos os lados;
Querem ver, querem ver para crer,
Estão de olhos arregalados.

Mas percebem que o desjejum
Longe está e logo, impacientes,
Num bocejo de tédio e fome
Arreganham a serra dos dentes.

E taratatá e denrendendém!
Não tem fim a coréia estranha.
Mais de um tubarão esfaimado
Sua própria cauda abocanha.

Eles não querem saber de música
Como outros do mesmo jaez.
"Desconfia de quem não gosta
De música", disse o poeta inglês.

E denrendenrém e taratá --
A estranha festança não tem fim.
No mastro do traquete, van Koek,
De mãos postas, rezava assim:

"Meu Deus, conserva os meus negros,
Poupa-lhes a vida, sem mais!
Pecaram, Senhor, mas considera
Que afinal não passam de animais.

Poupa-lhes a vida, pensa no teu Filho,
Que ele por todos nós sacrificou-se!
Pois, se não me sobrarem trezentas peças,
Meu rico negocinho acabou-se!"

Tradução: Augusto Meyer



Bom, essa foi a minha coluna dessa semana, na próxima irei falar sobre um francês chamado Baudelaire, Au revoir.


Postagem de hoje feita a partir da sugestão do herr Lucas Mello.


Lucas Freitas

7 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk adoro Lucas Freita o dia mais comentado né colega?kkkkk mais adoro poesia estrangeira, mas querido amigo vc poderia diminuir mais né d preguiça hehehe beijinhos

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  2. Adoro sua sessão, Lucas. Estou aprendendo muito e adorando seus comentários, parabéns. Você gosta das poesias que posta? Como tem acesso a elas?
    Um abraço!

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  3. Oi, Gilsa.

    Bom desculpa pela demora em dar uma resposta, mas é que a semana foi corrida. Bom, no geral eu posto as poesias que eu mais gosto do poeta, o único grande problema é passar algum tempinho procurando por elas na Internet.

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  4. interessante...mas diminui um pouquinho aí, lucas...kkkk

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  5. Ah, Lucas, então você tem livros de poesia desses poetas? Como os conhece? Desculpe o interrogatório, é que me interessa saber, kkkk
    Um abraço!

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  6. Oi, Gilsa. Não se preocupe em perguntar eu só aviso que a resposta pode demorar um pouco pra vir, mas pode perguntar sem problemas.Ainda não tenho nenhum livro dos poetas aqui mencionados, a grande maioria em conheci via sitações em outros livros, quadrinhos ou até em jogos.

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  7. essa parte do blog é muuito interessante, conhecemos outros meios literarios, outra cultura na verdade, mas.. diminui um pouco um pouquinho esses poemas, tá mt grande kkk

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